“O Píer” chegou devagar na Netflix, mas bastaram alguns episódios para o drama sulista dominar o top 10 em meio mundo. A produção original, inspirada em eventos reais, vai além do melodrama familiar: entrega uma narrativa de sobrevivência cravada na tensão moral de quem vive no limite entre honra e destruição. E se você chegou até o fim da temporada se perguntando quem sobrevive, quem traiu quem e se vai ter mais, este texto é seu mapa das marés. Com spoilers, claro.
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No centro da história está a família Buckley, ricaça de fachada, quebrada por dentro, tentando manter as aparências em Havenport, uma cidade costeira da Carolina do Norte. O império pesqueiro, tradicionalíssimo, já naufragou há tempos, mas ninguém admite. Quando a crise bate na porta, Cane, o herdeiro rebelde, toma uma decisão que muda tudo: transforma o barco de pesca em veículo de tráfico de drogas, e não demora para que todo mundo esteja envolvido até o pescoço num jogo perigoso com criminosos, chantagistas e autoridades corrompidas.
A série acelera rumo ao seu clímax quando os Buckleys se aliam à família rival, os Parkers, para destruir Grady, o traficante que estava financiando a operação e ameaçando tomar o controle. A aliança termina com uma explosão, literalmente. Mas, claro, Grady sobrevive. E volta para cobrar a fatura.
A reta final da temporada é um jogo de xadrez emocional. Grady sequestra Bree e Diller, filha e neto dos Buckleys, e arma um cerco em alto-mar. Ele não quer resgate. Quer vingança. A sequência no iate é uma aula de tensão narrativa, com reviravoltas viscerais e uma coreografia de confronto que mistura culpa, sobrevivência e laços de sangue. Grady, já num colapso, não poupa palavras: acusa Harlan, o patriarca, de ser o verdadeiro vilão. É a fala mais poderosa da série e o espelho de uma verdade dolorosa: os monstros da história não são apenas os traficantes, são os que alimentaram o sistema para salvar o próprio nome.
O embate termina com Cane assumindo o controle da situação, matando Grady com dois tiros certeiros e encerrando uma ameaça que ele mesmo ajudou a construir. Nenhum Buckley morre, mas as cicatrizes ficam. Bree sobrevive, mas o trauma permanece. Harlan aceita a violência como parte da equação e o novo xerife, Drew, faz o que se espera dele: limpa a cena, apaga as provas e entrega a impunidade embrulhada para presente.
A série não fecha todas as janelas, pelo contrário: deixa muitas abertas, com a brisa do conflito entrando por todos os lados. A relação de Cane com Peyton, por exemplo, ganha um desfecho que parece mais um ponto de interrogação do que uma reconciliação real. É o espelho do casamento de seus pais, onde o perdão é quase automático, mas os ressentimentos continuam no ar.
Bree, por sua vez, tem um dos arcos mais densos da temporada. Sua sobrevivência não é só física. Na jangada, depois de ser jogada ao mar, ela imagina confortar sua versão criança, escondida num armário. É simbólico, é forte e diz muito sobre como a série lida com trauma. Bree viu o avô ser assassinado, perdeu a guarda do filho por causa do vício, mas ainda assim resiste. A cena final sugere que a cura pode vir, mas só se ela continuar encarando os próprios fantasmas.
E aí tem Shawn. O filho secreto de Harlan. O meio-irmão de Cane. O estranho na família. Ele ajuda, participa, protege Bree… mas é nítido que ele não se sente parte de nada disso. Sua presença parece anunciar um futuro incerto: ele vai se render ao legado dos Buckley ou vai abandonar tudo e tentar escapar da lama?
E se você achou que a série já tinha entregado seu grande twist, segura a onda: Belle, a matriarca silenciosa, toma o leme da narrativa no último episódio. A aliança com os Parkers, firmada por ela em segredo, a coloca como nova líder dos negócios da família. Harlan não sabe. Cane não sabe. Mas os Parkers sabem. E veem nela o tipo de parceira que eles respeitam: racional, prática e disposta a tudo. O momento em que ela é apresentada como a nova chefe é puro subtexto: o poder mudou de mãos, mas o jogo continua sujo.
E aí vem a pergunta que todo mundo quer responder: vai ter segunda temporada?
A Netflix ainda não cravou, mas a série terminou com pontas soltas demais para serem ignoradas. O dilema de Shawn, o segredo de Belle, a estabilidade emocional de Bree, o envolvimento crescente dos Parkers… tudo aponta para um retorno inevitável. E se a primeira temporada foi sobre manter o império vivo a qualquer custo, a segunda, se vier, tem tudo para mostrar o que acontece quando as fundações já estão podres e alguém tenta construir algo novo em cima da mentira.
“O Píer” é sobre crime, sim. Mas é mais sobre culpa. É sobre legado. É sobre o preço que se paga por proteger a família mesmo quando a família é o problema. E enquanto o mar seguir agitado, a história dos Buckleys está longe de naufragar.
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