A banda Música de Montagem, um dos principais expoentes da música de vanguarda paulistana, chega ao seu segundo álbum, “Rua”, marcando uma fase de transformações intensas. Sob a liderança do compositor e instrumentista Sérgio Molina, o grupo passa por mudanças na formação e em sua abordagem musical, mantendo a busca pelo equilíbrio entre a música pop e reflexões estéticas e conceituais profundas.
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A transição entre o primeiro e o segundo disco frequentemente acontece de maneira gradual. No entanto, o impacto da pandemia interrompeu apresentações ao vivo e impôs desafios inéditos à cena musical, levando o Música de Montagem a uma reformulação profunda. Durante esse período, Molina se reconectou com o piano e explorou o uso de samplers, o que influenciou diretamente a sonoridade do novo trabalho.
A reformulação da banda trouxe Vitor Ishida e Xofan para se juntarem às integrantes remanescentes, Clara Bastos (baixo) e Priscila Brigante (bateria). Esse novo formato coletivo começou a se consolidar em 2020, com o projeto Laboratório Música em Nuvem, promovido pelo Sesc São Paulo. Dessa iniciativa surgiu a faixa “Escuta”, que contou com a participação de Juçara Marçal, Romulo Alexis, Marcelo Segreto, Gustavo Lenza e o crítico Túlio Ceci Villaça, funcionando como um embrião para “Rua”.
A chegada de Xofan, anteriormente uma espectadora assídua dos shows da banda, e de Vitor Ishida, indicado por ela, simbolizou a nova fase do grupo. Curiosamente, ambos nasceram no mesmo 13 de março que Molina, reforçando o caráter simbólico da renovação.
O nome Música de Montagem se origina do conceito teórico do crítico Walter Benjamin, explorado por Molina em seu livro “Música de Montagem: a Composição de Música Popular no Pós-1967” (2018). A banda aplica essa abordagem à produção musical contemporânea, transformando o estúdio em um ambiente de criação estruturado e meticuloso. Essa metodologia reflete a própria dinâmica de São Paulo, cidade onde a música industrial se mistura com a tradição erudita, o samba torto e o rap paulistano.
O processo criativo do grupo se dá de forma colaborativa: as composições de Molina passam por rearranjos coletivos, consolidando um som que funde baladas introspectivas e músicas dançantes. Em 2023, os singles “Alada” e a regravação de “Melancholia II” anteciparam essa evolução. “Rua” materializa esse processo em um álbum coeso, que equilibra questionamentos filosóficos e cenas do cotidiano urbano.
Desde a abertura com “Psiu”, marcada pelo diálogo entre a bateria de Priscila, o groove do baixo de Clara, a guitarra ruidosa de Vítor e a voz expressiva de Xofan, “Rua” revela a identidade musical da banda, transitando entre a solidez da música pop e as incertezas do cenário contemporâneo.
As influências do grupo aparecem de maneira evidente: a experiência de Clara ao lado de Itamar Assumpção, a abordagem antiguitarra de Vítor, o piano central de Molina, a precisão metronômica de Priscila e a versatilidade vocal de Xofan, alternando entre melodia e rap. As baladas “Sentido”, “Elegia” e “O Espelho” remetem a Paul McCartney e Arnaldo Baptista, enquanto as faixas mais funky como “Psiu”, “Quem Será Que Eu Sou?” e a faixa-título evocam o primeiro álbum da banda.
A presença de Juçara Marçal em “Escuta” fortalece a ponte entre os dois discos. Além dela, Marcelo Segreto assina letras de algumas faixas, juntamente com Kléber Albuquerque e a poeta Lilian Jacoto. Gustavo Lenza, responsável pela mixagem do experimento inicial, retorna para mixar o álbum, que teve a masterização realizada por Felipe Tichauer, nos EUA. A arte da capa ficou a cargo de Lia Assumpção, e os vocais de apoio contam com Aninha Ferrini, Melina Molina e Klaus.
Com “Rua”, o Música de Montagem reafirma sua identidade artística ao mesmo tempo em que avança em novas direções, consolidando-se como um dos projetos mais relevantes da música paulistana.
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