Após experimentar sonoridades diversas em “As Palavras Vol. 1 & 2”, transitando entre forró, funk e pagode, Rubel volta às raízes da MPB com um álbum profundamente íntimo e, ao mesmo tempo, grandioso em sua concepção estética. “Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?” chega às plataformas como um manifesto sensível, reflexivo e, acima de tudo, maduro. Lançado junto a um curta-metragem dirigido por Larissa Zaidan, o quarto álbum de estúdio do carioca reflete um artista em pleno estado de reinvenção, mas sem perder a conexão com sua essência.
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Desta vez, o violão divide espaço com arranjos sofisticados de cordas e sopros, conferindo às nove faixas uma atmosfera que flerta diretamente com a tradição harmônica da MPB dos anos 60 e 70. No repertório, sete músicas inéditas, uma versão em português para uma canção do mexicano El David Aguilar e uma surpreendente releitura de Radiohead.
“O que eu acho que é diferente nele, não sei como você sentiu, mas acho que a relação com a composição é muito mais influenciada pelo MPB dos anos 60 e 70“, explica Rubel, enquanto reflete sobre o próprio processo criativo. “Pela questão da harmonia brasileira, dos acordes, do tipo de melodia. Foi a primeira vez que eu me aproximei um pouquinho mais do tipo de canção que eu mais amo no planeta, que é essa MPB do Brasil dos anos 70. Então acho que ele é o disco mais brasileiro depois desses três.”
Ao longo da conversa, o cantor admite que a sensação é de estar iniciando uma nova fase, possivelmente até uma nova trilogia dentro de sua trajetória. “Foram três discos iniciais. Um mais folk, indie e íntimo, o segundo que flertava com MPB e hip hop, e o terceiro mais experimental, misturando forró, pagode, samba, tudo isso. E eu sinto quase como se isso tivesse sido uma fundação pra mim. Ou quase que uma escola, na verdade, de composição e produção musical.“
O novo projeto, segundo ele, surge como um recomeço, mas não no sentido de retorno a um ponto de origem. “Muitos jornalistas falaram que eu tô voltando pro início, e eu até sinto isso de alguma forma. Mas talvez eu não esteja voltando pra aquele início. Talvez eu esteja recomeçando e começando um novo ciclo“, pondera. “Eu acho que As Palavras fecha um ciclo. E esse disco abre outro.”
Se no passado Rubel se lançava a desafios estéticos muitas vezes distantes do que se esperava de sua obra, agora ele se debruça sobre a própria essência enquanto construtor de canções. “Eu acho que esse é o disco onde talvez eu tenha pegado um pouquinho de tudo que eu aprendi. Tudo que eu experimentei de letra, de tema, de forma de gravar, de tocar violão. E acho que cheguei num resultado que tem muito uma marca autoral. Uma marca de que eu passei por tudo isso, aprendi isso, e agora essa é a minha identidade.”
O álbum também surge como um presente para o público que o acompanha desde 2015. “Quando eu entendi que esse disco dialogava um pouquinho com a estética dos primeiros, eu pensei que seria uma espécie de presente legal para os fãs que estão lá desde o começo. A minha aposta era que eles se sentiriam vistos, porque parecia que eles tinham saudade“, revela. E essa percepção se confirmou logo no pré-lançamento. “Tá sendo muito legal de ver, porque eu tô falando que ele tem a ver com ‘Pearl’, com Casas, e a galera parece estar muito tocada por isso. Como se estivessem esperando esse tipo de música há muito tempo.”
O processo de composição foi, segundo Rubel, surpreendentemente leve. “Foi um processo muito fácil, na verdade. As músicas chegaram até mim. Eu não precisei sentar e pensar ‘vou ter que fazer um disco’. Quando eu vi, eu tinha as músicas já feitas, as melodias todas, e eu só sentei pra escrever as letras.” Pela primeira vez, ele adotou uma lógica quase literária na construção das canções. “Eu tinha oito melodias prontas. Então eu sentei ao longo de um mês pra escrever todas as letras junto, como se fosse um livro. Essas letras são uma espécie de capítulos de uma mesma história.“
Rubel também reflete sobre a construção de sua própria trajetória, onde amadurecimento pessoal e artístico andam lado a lado. “Sempre foi o meu sonho ter uma carreira baseada em discografia. E eu tô muito feliz de conseguir chegar no meu quarto disco. Espero que eu chegue no vigésimo e que o público siga comigo“, afirma. Ao mesmo tempo, reconhece que o caminho foi, muitas vezes, desafiador. “Em 2018 eu estava apaixonado por hip hop e quis fazer um disco que tivesse o Rincon Sapiência. Em 2023 eu estava apaixonado pelo Ferrugem, pelo Que Hável Crise, e quis fazer um disco que falasse com esse tipo de música brasileira mais popular. Foram movimentos até bem arriscados. Muita gente falava que eu ia alienar meu público, que eu tinha que fazer música folk, senão as pessoas não iam me ouvir mais. Mas eu sempre acreditei que, se eu estiver sendo coerente com o meu tesão musical, a galera vai ficar.”
Para Rubel, a resposta sempre esteve na honestidade artística. “O melhor que eu posso oferecer é a verdade que eu tenho naquele momento. Tudo que eu fiz foi a brisa que eu tava naquela hora. E acho que tem dado muito certo.”
“Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?” é, portanto, a síntese desse artista em constante movimento. Uma obra que abraça o passado, reverbera o presente e lança perguntas sobre os próximos passos não só de Rubel, mas de toda uma geração que se encontra no exato ponto entre o deslumbramento e a incerteza.
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