Adriana Deffenti é uma daquelas artistas que podem ser caracterizadas por meio de suas próprias músicas. A letra de Controversa é contundente, mas ao mesmo tempo é leve e carregada de nuances sobre as maravilhas e dores de ser quem se é:
Mas saiba meu senhor, senhora, que fiquei assim
Por desfrutar da liberdade de viver pra mim
E é nessa atmosfera de contradição, provocação e liberdade que Adriana anuncia mais um lançamento: o clipe da canção, resultado de um feat delicioso e cheio de gingado com Valéria Barcellos. O registro em vídeo da canção, que já está em todas as plataformas de streaming, chega ao canal do YouTube de Deffenti esse mês, dia 23 de setembro.
O clipe foi totalmente gravado por drones, em Porto Alegre, no bairro Cidade Baixa. Do apartamento de um prédio emblemático da capital gaúcha as duas cantoras soltaram suas vozes e, claro, se divertiram. “Foi uma delícia fazer o clipe! Embora tivéssemos todas essas questões de distanciamento, é sempre uma festa quando nos encontramos! Era um clipe muito esperado, é um trabalho maturado, que ficou fermentando durante muito tempo. Então além de ter essa vontade louca de fazer, foi uma delícia poder fazer”, afirma Valéria Barcellos.
O lançamento da canção diz muito também sobre questões pessoais para Adriana: “Ter minha música cantada por uma mulher negra e transexual me trouxe tanta informação, me ajudou a compreender um universo que, antes disso, era distante. Prezo muito a evolução como ser humano”.
A parceria entre Valéria e Adriana teve início em 2013. Adriana falava com uma aluna, que indicou Valéria. Ao pesquisar nas redes, Adriana achou uma interpretação irretocável de Valéria no Festival da Canção Francesa. “Foi uma performance forte, imponente e delicada. Uma voz rara”, relembra Adriana. Logo após ocorreu o encontro entre elas, Adriana mostrou a música e disse que achava que ficaria muito boa em sua voz.
Tudo deu tão certo e o entrosamento entre elas foi tão grande, que até hoje há quem acredite que a música é de autoria da Valéria ou então que Adriana fez a música especialmente para ela. “Cada vez que eu vou cantar em algum lugar essa canção as pessoas dizem ‘Essa música foi feita pra mim! Ela é maravilhosa! Ela é perfeita’ ou perguntam se ela foi feita pra mim”, diverte-se Valéria. Adriana tem uma opinião bastante consolidada sobre o assunto: “Pra mim, tudo isso é sinônimo de um bom trabalho em dupla. E de um encontro muito especial”.
A PRODUÇÃO DO CLIPE
A gravação de um clipe com Adriana e Valéria já era uma discussão antiga. Ambas queriam muito registrar em vídeo a música que marca a trajetória das artistas. “Falei com Bernardo Zortea, que me foi apresentado pela Val há anos, com a intenção de produzirmos o videoclipe, e retomamos o projeto. Veio a pandemia e tínhamos que criar um roteiro adaptado às limitações de filmagem. A ideia do drone caiu como uma luva!”, relembra Adriana. Com a ajuda do diretor, que também cedeu sua casa para o registro, as imagens foram feitas em um prédio emblemático de Porto Alegre, no bairro Cidade Baixa, reduto boêmio e LGBTQIA+ da cidade.
“O resultado é de uma beleza sutil e ao mesmo tempo grandiosa. A cidade aos pés das intérpretes fala por si. Uma homenagem a Porto Alegre e a Cidade Baixa, que emana enquanto símbolo da diversidade”, enaltece Adriana.
Para Valéria foi difícil conter as lágrimas depois de ver o resultado final: “É a materialização daquilo que a gente quis tanto e mostra o nosso berço, o nosso gueto principal que é a Cidade Baixa, com um olhar tão bonito e tão delicado”, celebra a cantora.
SOBRE REPRESENTATIVIDADE
Adriana não tinha ideia da proporção que sua composição atingiria. A música foi feita antes mesmo das artistas se conhecerem e ao saber um pouco mais sobre o trabalho de Valéria viu a intérprete exata para sua criação. “Controversa e esse encontro com Valéria contribuíram muito pra minha evolução. Sem querer, criei uma ferramenta de empoderamento e manifestação pelo direito de SER o que se é. É um contentamento incomensurável”, afirma Adriana.
E foi nessa atmosfera que a canção foi ganhando cada vez mais força e acabou se tornando uma espécie de hino, de força e empoderamento para mulheres e comunidade LGBTQIA+. “É claro que eu cantando, a canção saindo da minha boca, tem uma força e a Adri cantando tem uma outra força, né? Porque são causas distintas, mas que precisam de vozes tão fortes e tão diferentes quanto para que se sintam ali”, reflete Valéria.
Para Valéria, a identificação com a letra diz muito sobre quem a escuta: “As pessoas trans compraram muito essa música, os gays compraram muito essa música, a comunidade LGBTQIA+ comprou muito essa música, porque ela fala exatamente sobre essa situação, mesmo não sendo exatamente essa situação. Essa roupa que a canção vestiu, a partir da minha interpretação, é também a roupa que as pessoas vestem a partir das suas próprias vivências”, analisa Valéria.
SOBRE A CANÇÃO
Desde sua composição, a canção Controversa já fez parte de filme, apresentações solos e em dupla, documentário, além de ser sinônimo de empoderamento. Veja abaixo alguns registros:
- Foi trilha do longa-metragem Copa 181;
- Foi cantando pela Valéria Barcellos na abertura do show da Katy Perry, em Porto Alegre, em 2018;
- Fez parte do documentário Dentro da Minha Pele, lançado recentemente;
- Há um acústico, gravado pela Preto Filmes, disponível no YouTube.
Assista: