“A Cozinha” é um mergulho intenso e sem concessões nas complexas dinâmicas de poder que permeiam a vida dos imigrantes invisíveis para a sociedade, mas que, ainda assim, sustentam a engrenagem do capitalismo. O filme de Alonso Ruizpalacios não faz rodeios, e em vez de celebrar o trabalho na cozinha como uma arte, como muitos filmes fazem, ele expõe a realidade crua de uma jornada marcada pela exaustão, pelas hierarquias rígidas e pela constante luta por sobrevivência.
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A trama se passa em uma sexta-feira intensa no The Grill, um restaurante famoso em Nova York, onde a pressão é altíssima. Cada movimento na cozinha é uma reação instintiva à sobrecarga de trabalho, enquanto os cozinheiros, imigrantes ilegais, tentam seguir o ritmo frenético, ao mesmo tempo em que lidam com suas próprias ambições e frustrações. Pedro, o personagem principal interpretado por Raúl Briones Carmona, sonha com uma vida melhor – um futuro onde ele possa legalizar sua situação e alcançar o Sonho Americano. Mas seu mundo vira de cabeça para baixo quando é acusado de roubar o dinheiro do caixa, e sua história se torna uma representação visceral de como o sistema pode esmagar as esperanças de quem está abaixo na cadeia.
O que o diretor faz com maestria é transformar a cozinha não em um cenário, mas em um microcosmo de uma sociedade onde as relações de poder são evidentes e implacáveis. O filme não se preocupa com a estética da comida; ao contrário, o foco está nas pessoas que preparam os pratos e nas suas relações entre si. A comida é uma metáfora, o reflexo de uma cultura obcecada pelo consumo excessivo, onde nada é suficiente, e o trabalho árduo é constantemente explorado sem reconhecimento.
Pedro, que começa como um simples cozinheiro com sonhos de algo mais, acaba sendo a personificação de milhões de imigrantes que, ao buscarem um futuro melhor, se veem confrontados com a brutal realidade de um sistema que os usa e os descarta. Cada momento de sua trajetória revela a crueza da experiência imigrante: a perda da identidade, o sacrifício da língua e da cultura para se adaptar a um novo país, e a constante sensação de que, por mais que se lute, nunca se é verdadeiramente aceito. Sua jornada não é só a de um personagem, mas a de uma classe de trabalhadores que nunca tem espaço para parar e refletir, pois o mundo segue seu ritmo impiedoso.
No fim das contas, “A Cozinha” é um estudo sobre o capitalismo e a desumanização. As perguntas que o filme levanta são difíceis de ignorar: até onde o sistema está disposto a ir para manter a sua ordem, e quem paga o preço por isso? A resposta, dada pelas experiências de Pedro e seus colegas, é clara, os mais frágeis aqueles que sustentam o sistema, são os que mais sofrem.
É um filme que incomoda, que exige reflexão, e que, ao ser visto, não desaparece facilmente da mente. Ao expor as falhas do “Sonho Americano”, o longa nos força a repensar nossa própria relação com o trabalho, com o consumo e com aqueles que fazem esse mundo funcionar, sem nunca serem vistos.
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