O filme “Central do Brasil” é uma das obras mais marcantes da cinematografia brasileira e um verdadeiro divisor de águas para o cinema nacional. Dirigido por Walter Salles e lançado em 1998, o longa trouxe ao mundo uma visão crua e sensível do Brasil, impulsionado por uma narrativa envolvente e atuações memoráveis, especialmente a de Fernanda Montenegro.
Sua importância foi reconhecida internacionalmente com indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Filme Estrangeiro, consolidando-o como uma das maiores produções brasileiras da história. Enquanto o Brasil retorna ao Oscar este ano, com “Ainda Estou Aqui” disputando três estatuetas, é impossível não lembrar do impacto que “Central do Brasil” teve há mais de duas décadas.
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A força do filme reside no seu realismo e na sua abordagem sem artifícios para contar uma história profundamente humana. Dora, interpretada por Montenegro, é uma ex-professora que sobrevive escrevendo cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Seu encontro com Josué (Vinícius de Oliveira), um garoto que perde a mãe tragicamente e busca encontrar o pai desconhecido no Nordeste, desencadeia uma jornada transformadora. O filme poderia facilmente cair no melodrama, mas evita qualquer traço de sentimentalismo barato, entregando uma experiência cinematográfica que emociona pela verdade que carrega.
A direção de Walter Salles equilibra de maneira impressionante a grandiosidade das paisagens brasileiras com a intimidade das relações humanas. A cinematografia de Walter Carvalho ressalta essa dicotomia, contrastando a urbanidade caótica do Rio com a imensidão do sertão nordestino, onde a poeira e o calor se tornam quase uma síntese. A trilha sonora de Antonio Pinto e Jaques Morelenbaum complementa perfeitamente essa atmosfera, trazendo uma melancolia sutil que reforça o tom do filme.
O roteiro de João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein é um dos pontos altos da obra. Cada diálogo tem um peso significativo, transmitindo não apenas a história dos personagens, mas um panorama social do Brasil dos anos 1990. A relação entre Dora e Josué cresce de maneira orgânica, evoluindo de um vínculo pragmático para um afeto genuíno, e é justamente nessa construção que a força do filme se manifesta. O Brasil retratado em “Central do Brasil” não é um cenário idealizado, mas um país de contrastes, onde a dureza da vida se entrelaça com a resiliência de seu povo.
Fernanda Montenegro entrega uma das atuações mais emblemáticas do cinema, uma performance tão poderosa que lhe rendeu a indicação ao Oscar de Melhor Atriz, tornando-a a primeira atriz latino-americana a ser reconhecida na categoria. Sua Dora é uma personagem complexa, inicialmente cínica e indiferente, mas que aos poucos se abre para um senso de compaixão e responsabilidade. Montenegro domina a tela com um olhar carregado de histórias e emoções que dispensam palavras. A injustiça de sua derrota no Oscar para Gwyneth Paltrow continua sendo um dos momentos mais controversos da premiação.
Vinícius de Oliveira, então um jovem desconhecido, entrega uma atuação surpreendentemente autêntica. Descoberto por acaso enquanto engraxava sapatos no aeroporto do Galeão, o garoto trouxe uma naturalidade impressionante para o papel, tornando Josué um personagem crível e cativante. Sua dinâmica com Montenegro é o coração do filme, e a relação entre os dois transborda verdade.
“Central do Brasil” não explora a pobreza como espetáculo, mas também não a ignora. O filme reflete as dificuldades de uma população marginalizada sem apelar para exageros, mostrando que a vida de seus personagens vai além das dificuldades que enfrentam. Há momentos de humor, carinho e esperança, elementos que tornam a obra ainda mais poderosa. A cena final, marcada pela despedida silenciosa entre Dora e Josué, é um dos momentos mais devastadores e belos do cinema.
A aclamação do filme foi imediata. Além das duas indicações ao Oscar, “Central do Brasil” venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e o Bafta na mesma categoria. Ele se tornou um marco do cinema da Retomada, período que revitalizou a produção nacional após anos de crise. Seu impacto ainda reverbera, sendo frequentemente citado como um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Em um ano em que o Brasil retorna ao Oscar com “Ainda Estou Aqui”, concorrendo a três prêmios, “Central do Brasil” permanece como um lembrete do potencial do cinema nacional. O reconhecimento internacional é importante, mas o verdadeiro valor da obra está na sua capacidade de emocionar e ressoar com o público, independentemente de premiações.
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