Um bom thriller precisa de duas coisas: tensão crescente e personagens que sustentem esse peso. “Cilada”, adaptação argentina do livro de Harlan Coben, domina a primeira parte da equação, mas vacila na segunda. Com uma trama envolvente, ambientação meticulosamente planejada e uma protagonista que carrega a narrativa com intensidade, a série se posiciona entre as mais comentadas da Netflix em 2025. No entanto, o compromisso quase obsessivo com reviravoltas e a sobrecarga de personagens acabam limitando o impacto emocional da história.
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A investigação conduzida por Ema Garay (Soledad Villamil) começa com a promessa de um thriller ancorado na realidade: uma jornalista digital que construiu sua carreira expondo criminosos agora se vê diante de um caso que ameaça sua própria segurança. O desaparecimento de uma jovem de 16 anos e as suspeitas sobre Leo Mercer (Joaquín Furriel), um assistente social respeitado, estabelecem um jogo de tensão que a série administra com precisão nos primeiros episódios. A fotografia fria e os cenários de Bariloche elevam o tom do mistério, inserindo elementos do noir contemporâneo em uma estrutura narrativa já consagrada por Coben. No entanto, o que começa como um drama policial instigante logo se entrega à necessidade quase compulsiva de chocar o espectador.
A maior virtude da série está na sua estética e atmosfera. A direção explora o isolamento geográfico da Patagônia para criar um ambiente de constante inquietação. Os espaços amplos e gélidos contrastam com os conflitos internos dos personagens, reforçando o subtexto de solidão e desconfiança. A protagonista, por sua vez, não se encaixa no arquétipo tradicional das detetives infalíveis. Ema é impulsiva, emocionalmente desgastada e conduzida mais pela urgência do que pela racionalidade, um aspecto que Soledad Villamil interpreta com precisão cirúrgica. Sua performance sustenta a narrativa mesmo quando o roteiro escorrega no excesso de informação.
O principal problema de “Cilada” está na construção dos coadjuvantes. O roteiro insere uma quantidade excessiva de personagens secundários, cada um carregando traumas, motivações e segredos próprios. Essa complexidade, que poderia ser um ponto alto, se transforma em um obstáculo narrativo. Personagens como o policial vivido por Fernán Mirás e o empresário interpretado por Mike Amigorena são apresentados como peças-chave, mas carecem de desenvolvimento suficiente para gerar um impacto real. Até mesmo o filho de Ema, uma figura que deveria aprofundar o conflito pessoal da protagonista, acaba reduzido a um elemento funcional da trama.
A performance de Joaquín Furriel como Leo Mercer é um dos pontos mais bem executados da série. O ator transita com precisão entre a empatia e a desconfiança, tornando difícil para o espectador definir de que lado ele realmente está. Esse jogo de ambiguidade é um dos pilares do suspense, funcionando melhor do que algumas das reviravoltas inseridas no roteiro.
O último episódio sintetiza as qualidades e os defeitos da série. A narrativa se desenrola em uma sequência de revelações que, embora eficientes no quesito surpresa, enfraquecem o impacto emocional da história. Em vez de permitir que as reviravoltas respirem, a série as empilha de forma acelerada, comprometendo a coerência da trama. Essa escolha não chega a arruinar a experiência, mas reforça uma fragilidade recorrente nas adaptações de Coben para a Netflix: o vício em choques narrativos sobrepondo-se à construção orgânica do suspense.
Mesmo com suas limitações, “Cilada” se sustenta como um thriller eficiente. A direção é segura, a montagem mantém o ritmo necessário para prender o espectador e a trilha sonora contribui para a atmosfera de tensão. O maior mérito da série está na sua capacidade de envolver, mesmo quando suas escolhas narrativas são previsíveis. Para quem busca um suspense repleto de reviravoltas e uma ambientação diferenciada, a série entrega exatamente o que promete.
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