“Dua Lipa”, álbum de estreia da artista britânica-albanesa lançado em 2017, representa um primeiro passo ambicioso dentro do pop, apresentando uma cantora em processo de afirmação estética, vocal e conceitual. O disco opera dentro de uma fórmula ainda em transição, marcada por uma busca de identidade entre a herança do EDM comercial do início da década de 2010 e as possibilidades mais narrativas e híbridas que o pop começou a explorar com mais agressividade nos anos seguintes.
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O projeto tenta equilibrar múltiplas linguagens: electropop, R&B alternativo, dancehall estilizado, tropical house e baladas com timbragens eletrônicas minimalistas. Há momentos de fusão produtiva entre essas estéticas, como em “Be the One”, “Hotter than Hell” e “New Rules”, mas também há faixas onde o excesso de elementos técnicos ou a indecisão formal comprometem a leitura musical mais clara das composições. A mixagem irregular, em especial, afeta a percepção de camadas, com instrumentos e efeitos disputando o primeiro plano de maneira pouco calibrada, algo que prejudica a inteligibilidade e compromete o brilho que a produção pop exige em sua melhor forma.
A voz de Dua Lipa, por outro lado, é o componente mais estável do disco. Há uma presença vocal com densidade e personalidade, sustentada por um timbre contralto consistente e por uma articulação melódica que busca sempre reforçar os ganchos característica central em sua abordagem de refrões. Mesmo quando a escrita vacila (especialmente em versos de menor carga narrativa ou em passagens de transição), a performance vocal mantém a estrutura coesa e sustenta o álbum em momentos onde a produção técnica é dispersa.
A arquitetura melódica segue os princípios clássicos do pop mainstream: refrões fortemente marcados por frases repetitivas, linhas rítmicas secas e cadências previsíveis. O diferencial, no entanto, está em como essas fórmulas são interpretadas com uma certa intenção de fratura: embora siga a gramática pop funcional, o disco insere nuances dramáticas nos arranjos, como reverbs exagerados, delays longos e compressões que forçam os limites do brilho para tensionar o ouvinte entre euforia e introspecção. Essa leitura “dark pop”, como definido pela própria artista, é interessante, mesmo que muitas vezes reste diluída por inconsistência estética entre as faixas.
A escrita lírica segue um padrão que privilegia emoções diretas: empoderamento, orgulho ferido, vulnerabilidade, desejo, raiva e autonomia. Os versos não exploram linguagem poética expandida, mas funcionam dentro do que se espera de um pop narrativo com foco relacional e emocional. A falta de sofisticação em alguns trechos, com rimas e metáforas previsíveis, ainda assim cumpre a função de mediação afetiva com o público-alvo do disco.
A principal fragilidade do projeto está na sensação de montagem fragmentada. A diversidade de produtores e a longa duração da gestação do disco (2013–2017) se refletem num fluxo de ideias por vezes desconectado. O álbum tenta abranger muitas estéticas e referências, sem que haja, necessariamente, uma lógica interna coesa que justifique a transição entre elas. Trata-se de um álbum de estreia no sentido mais técnico: uma vitrine de possibilidades, com faixas funcionando como experimentos e afirmações de intenção, ainda que não articuladas em um conceito central robusto.
Apesar disso, “Dua Lipa” cumpre um papel fundamental: apresentar uma artista com voz própria, potencial autoral e domínio de palco. Os ganchos funcionam. As melodias grudam. E a presença vocal sustenta a estrutura mesmo nos momentos de desequilíbrio técnico. O disco sinaliza que há mais a ser feito e explora, de maneira ainda bruta, o que se tornaria seu estilo em “Future Nostalgia”: um pop com assinatura, com confiança estética e ambição técnica.
Enquanto estreia, o álbum é funcional, eficaz e promissor. Aponta falhas estruturais e limitações de produção que seriam posteriormente resolvidas, mas também demonstra uma artista ciente de suas ferramentas e de seu espaço no pop global. Dua Lipa inicia sua discografia com uma base sólida, mesmo que ainda imperfeita e abre margem para uma curva de evolução que, retrospectivamente, revela-se plenamente realizada.
Nota final: 68/100
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