Crítica: Jessica Pratt, “Here in the Pitch”

Crítica: Jessica Pratt, “Here in the Pitch”

Crítica: Jessica Pratt, “Here in the Pitch”

Depois de cinco longos anos, Jessica Pratt está de volta com “Here in the Pitch“, e se você estava esperando por essa viagem etérea para a Califórnia dos sonhos (ou talvez pesadelos), segure o chapéu, porque ela não decepciona. Lançado em 3 de maio de 2024, pela Mexican Summer, o novo álbum traz tudo que amamos sobre Pratt, mas com uma pitada extra de ousadia introspectiva.

Crítica: Jessica Pratt, “Here in the Pitch” | Foto: Reprodução

Imagina só: uma Los Angeles dos anos 70, mas ao invés do brilho ensolarado e da vibe “paz e amor”, estamos na sombra daquilo que ninguém gosta de falar, o lado sombrio do sonho californiano. Pratt mergulha fundo nas lendas urbanas, nas desilusões e nos ecos de tempos que passaram. Dá para sentir as obsessões dela com figuras quase míticas da era hippie, como se ela estivesse conversando com fantasmas ao longo do disco. E isso tudo é feito com uma delicadeza que, de tão hipnótica, parece que a qualquer momento vai te puxar para um transe suave (mas cuidado pra não cochilar e perder os detalhes).

E falando em colaboração, “Here in the Pitch” não é só sobre Jessica. Ela trouxe para o estúdio uma turma interessante, incluindo o tecladista Matt McDermott, o baixista Spencer Zahn e até o percussionista Mauro Refosco. Também rolaram colaborações de Ryley Walker e Peter Mudge. É como aquela festa onde ninguém fala muito, mas as músicas no fundo contam histórias por todo mundo.

Mas vamos ao ponto central: a voz de Pratt. Querido leitor, se você já teve o prazer de ouvir a voz dessa mulher, sabe que ela é tudo menos comum. É aquele sussurro que te pega de surpresa, quase estridente, mas que te faz querer chegar mais perto. Em faixas como “Get Your Head Out“, “The Last Year” e “Better Hate“, ela flerta com um toque de bossa nova (quem diria?), algo que acentua ainda mais os ritmos vocais. É sutil, mas é delicioso. E, meu amigo, que lirismo agridoce! De frases como “Eu nunca fui o que eles me chamaram no escuro“, em “Empires Never Know“, até “As maldições que você carrega não te seguirão mais“, na abertura “Life Is“, Pratt acerta em cheio no sentimento. Cada palavra parece meticulosamente escolhida para te fazer sentir um tipo de saudade que você nem sabia que tinha.

Bom, mas indo bem direto ao ponto, infelizmente o disco tem um porém. Ele é curto. Realmente curto. Com cerca de 27 minutos, você mal senta para apreciar e já está voltando ao começo. Claro, isso evita aquele excesso que muitas vezes faz um álbum se perder, mas não me importaria com umas duas ou três faixas a mais. Justo? Total. Mas se a maior reclamação é que o disco acabou rápido demais, isso já diz muito, não é? Melhor querer mais do que querer menos.

E o que dizer da atmosfera do álbum? Parece que estamos sentados com Pratt em uma sala pequena, ouvindo sua voz de pertinho, quase como se ela estivesse cantando só para nós. Há uma simplicidade que ecoa em cada nota. Faixas como “Empires Never Know” e o instrumental “Glances” mostram isso com clareza: é tudo tão íntimo que é quase desconfortável… no melhor sentido possível. E aí, claro, a psicodelia suave que marca o som de Pratt continua ali, flutuando por entre as faixas, sem pressa de ir embora.

Para encerrar: “Here in the Pitch” pode não ser o maior álbum do ano em termos de números ou estardalhaço, mas é uma obra que tem o coração no lugar certo. É um álbum que te faz querer sentar, refletir, e talvez até dar aquele suspiro demorado ao final. E, quem sabe, ouvir tudo de novo. Porque no mundo sonoro de Jessica Pratt, cada pequena pausa, cada sussurro, cada tom vale a pena ser revisitado. Se esse álbum fosse uma viagem, seria aquela de carro, em uma estrada deserta ao entardecer, onde a gente não tem pressa de chegar, e o horizonte parece sempre distante, mas fascinante.

Nota final: 88/100

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