“MDNA” é um daqueles álbuns que, ao longo do tempo, tem sido subestimado, frequentemente classificado entre os piores da carreira de Madonna. No entanto, essa visão não faz jus ao que o disco realmente oferece. Lançado em 2012, “MDNA” é um álbum que desafia a ideia de que a rainha do pop deve seguir sempre uma linha de evolução previsível. Ele possui uma sonoridade mais mainstream, fortemente influenciada pela EDM e pelo dance-pop, mas, ao contrário de algumas análises rápidas que o rotulam como uma tentativa de acompanhar modismos, o álbum é, na verdade, uma fusão natural das inquietações pessoais e das explorações sonoras que sempre definiram o trabalho de Madonna.
2025 começa com novidades: os álbuns “MDNA”, “Rebel Heart” e “Madame X”, lançados pela Interscope, passam a integrar o catálogo da Warner Music, possibilitando novos produtos e projetos que valorizem as obras da década de 2010 da Rainha do Pop.
O maior erro de quem critica “MDNA” está em esperar que ele se encaixe perfeitamente em uma narrativa linear dentro da carreira de Madonna. O que muitos não percebem é que, apesar de suas influências da música eletrônica e das batidas pulsantes de sintetizadores, o álbum se conecta com as inquietações pessoais da cantora de maneira extremamente eficaz. “Love Spent”, por exemplo, é uma crítica ácida sobre relações baseadas em interesses e egoísmo, refletindo diretamente a separação de Madonna com Guy Ritchie, mas a produção e a forma como a canção se desenrola é um testemunho da habilidade da artista em fundir experiências pessoais com sonoridade inovadora. A letra, que fala sobre a perda e a decepção, é envolvida por uma produção que mescla melancolia e ritmo, uma característica que se torna evidente em várias faixas do disco.
O álbum reflete muito mais do que apenas um jogo com novas sonoridades. “MDNA” é uma tapeçaria sonora que mistura a sensualidade do dance-pop com uma abordagem mais crua e visceral, que pode ser observada principalmente nas faixas mais energéticas, como “I’m Addicted”. Aqui, Madonna não apenas se entrega à batida, mas explora o espaço de seu próprio vício, seja ele emocional ou até físico, nas dinâmicas complexas de sua voz eletronicamente manipulada e nas camadas de sintetizadores que se sobrepõem à música. Essa textura sonora torna-se um reflexo da desconstrução de sua própria imagem, uma jogada de auto sabotagem quase artística, onde ela se perde para se reencontrar.
Por mais que alguns críticos tenham se concentrado nas manipulações vocais, é justamente essa característica que permite que Madonna se reinvente e explore um território sonoro distinto do que seus álbuns anteriores ofereceram. A voz, tratada como uma ferramenta de experimentação, cria uma narrativa paralela à musicalidade das faixas. Ela não está ali para ser a protagonista, mas para se integrar ao todo, como uma extensão da produção. O uso de autotune e manipulações vocais nas faixas de “I’m Addicted” e “Give Me All Your Luvin’” ajuda a estabelecer uma atmosfera de distanciamento emocional, que, embora polarize opiniões, faz parte de uma estética deliberada de desconstrução de sua imagem. Esse distanciamento é uma crítica implícita ao próprio sistema pop que tenta capturar a essência de um artista, mas que, em sua busca pela perfeição, distorce e diminui a complexidade humana.
Em faixas como “Masterpiece”, Madonna revela outro lado de “MDNA” a artista que não perde a capacidade de se emocionar e se conectar de maneira profunda com sua música. A canção é um contraponto necessário à energia frenética de muitas das outras faixas. É, de fato, um momento de vulnerabilidade genuína e, por mais simples que seja sua melodia, ela carrega uma carga emocional que não pode ser ignorada. Aqui, Madonna revisita sua própria história com uma elegância atípica, dando ao ouvinte uma amostra de sua capacidade de se reinventar sem perder a essência da mulher por trás da artista.
Entre os altos e baixos do álbum, há uma série de momentos em que “MDNA” brilha de forma inesperada. A crítica frequentemente se concentra nos momentos em que o álbum não se encaixa nas expectativas de um pop mais mainstream, mas é justamente nessa fuga das normas que reside a força do disco. “Some Girls”, por exemplo, é uma faixa que ganha força ao se distanciar de uma simples celebração do pop e investir em um comentário sobre a superficialidade e os estereótipos de gênero. O tema central da música se desenvolve em uma linha fina entre a crítica e a provocação, mas é eficaz na sua execução e se alinha perfeitamente com a abordagem satírica e autocrítica que Madonna sempre usou ao longo de sua carreira.
O maior erro é julgar “MDNA” pela sua recepção inicial, quando, na verdade, ele é um álbum com camadas que só se revelam completamente após uma escuta mais atenta. As faixas que, à primeira vista, parecem ser descartáveis ou comerciais, se desdobram em algo mais intrincado, algo que só é percebido ao longo do tempo. A transição de Madonna para a EDM não foi um erro, mas uma escolha estratégica e uma evolução natural. “MDNA” é, sim, um álbum de contrastes, ora desafiando a indústria, ora se entregando à produção de faixas pensadas para as pistas de dança. Mas o que ele representa, no final, é a capacidade de Madonna de se reinventar sem se perder de vista, oferecendo uma obra que desafia as expectativas do pop convencional.
Em retrospecto, “MDNA” não é o “fracasso” que muitos querem ver. Em vez disso, é um retrato de uma artista em um ponto de transição, se lançando para um futuro digital, mas mantendo elementos de sua essência que a tornaram imortal. A crítica a esse álbum muitas vezes ignora o fato de que Madonna sempre se desfez das expectativas para forjar seu próprio caminho, e “MDNA” foi apenas mais uma etapa desse processo constante de evolução.
Nota final: 70/100
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.