O disco “Rebel Heart” reflete de maneira crua e, ao mesmo tempo, refinada, o estado emocional e artístico de Madonna em um momento de transição na sua carreira. Lançado em 2015, o disco é um reflexo das tensões internas da artista, entre o desejo de se manter fiel a si mesma e a necessidade de abraçar novas sonoridades e direções. Esse confronto de “Rebel” e “Heart”, que inspira o nome do álbum, é um conceito que se desdobra de forma fluida ao longo do trabalho, mas com uma falta de coesão nas faixas que pode frustrar a experiência de escuta de quem procura uma narrativa mais consistente.
2025 começa com novidades: os álbuns “MDNA”, “Rebel Heart” e “Madame X”, lançados pela Interscope, passam a integrar o catálogo da Warner Music, possibilitando novos produtos e projetos que valorizem as obras da década de 2010 da Rainha do Pop.
A produção de “Rebel Heart” é uma mistura intrincada de estilos de trap a house music, passando pelo reggae e dubstep o que, por um lado, mantém a novidade e a ousadia da artista, mas, por outro, compromete o equilíbrio do disco. As colaborações com produtores renomados como Diplo, Avicii e Kanye West, ainda que tragam novas texturas ao som, geram um resultado final que soa inconsistente em algumas partes. O álbum parece ser um reflexo do processo de criação tumultuado que precedeu seu lançamento: uma série de demos vazadas, faixas retrabalhadas e múltiplas versões lançadas que acabam prejudicando a fluidez e a coesão do material.
O contraste presente no conceito de “Rebel Heart” é perceptível nas faixas, muitas das quais alternam entre melancólica e momentos de exaltação selvagem. Faixas como “Living for Love” e “Devil Pray” se destacam pela vulnerabilidade e profundidade emocional, mas outras, como “Bitch I’m Madonna” e “Unapologetic Bitch”, acabam soando mais superficiais, quase como se fossem colagens de momentos que não se comunicam bem entre si. A energia agressiva e a postura desafiadora das faixas de caráter rebelde não se conectam de forma orgânica com a melancolia de outras, como “Ghosttown” e “Joan of Arc”, o que cria uma sensação de que o álbum é uma coletânea de momentos, em vez de um todo coeso.
Por mais que o álbum seja um produto de sua época, com uma clara influência do EDM e do trap, “Rebel Heart” também revela a tentativa de Madonna de explorar uma sonoridade mais orgânica, com a utilização de elementos como o coral gospel em “Iconic” e os instrumentos acústicos que permeiam faixas como “Body Shop”. Isso, em parte, é bem-sucedido, mas também resulta em momentos que soam desconexos e até forçados. A produção de faixas como “Wash All Over Me” e “Best Night” é uma das melhores do álbum, mas a falta de continuidade nas escolhas sonoras ao longo do projeto acaba desvirtuando a imersão do ouvinte.
A estrutura do álbum e a abordagem de lançamento de múltiplas versões também acabam prejudicando a coerência. O conceito original de dividir o disco em duas partes “Rebel” e “Heart” pode ter ajudado a definir melhor a estrutura emocional do projeto, mas essa divisão foi perdida nas versões finais, onde o conteúdo se estende de forma excessiva, dificultando a experiência auditiva. As faixas super deluxe, como “Beautiful Scars” e “Addicted”, são exemplos de como o álbum poderia ter se beneficiado de uma produção mais refinada, especialmente nas canções que mais sofrem com a falta de coesão, onde a energia inicial se perde na tentativa de empregar uma sonoridade mais madura.
Apesar das falhas na execução, o álbum é indiscutivelmente um reflexo da disposição de Madonna de continuar a desafiar as convenções do pop, mesmo em sua fase mais madura. Faixas como “Ghosttown”, com sua melancolia quase cinematográfica, e “Illuminati”, com sua sátira política e social, mostram que, mesmo no ápice de sua carreira, Madonna ainda possui uma capacidade única de explorar temas universais com uma perspectiva pessoal.
Com seu repertório de experimentação e rebeldia, “Rebel Heart” é um álbum que, mesmo com suas falhas, é capaz de refletir a complexidade emocional e artística de Madonna. Pode não ser o álbum mais coeso de sua carreira, mas é sem dúvida um dos mais desafiadores, explorando os limites da sonoridade pop enquanto expõe uma faceta mais íntima da artista. A falta de um fluxo perfeito entre as faixas e o excesso de versões do álbum são pontos fracos, mas, ao mesmo tempo, a liberdade criativa e a disposição para explorar diferentes dimensões musicais são qualidades que permanecem como legado do disco.
Nota final: 65/100
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