Crítica: Nelly Furtado, “7”

Nelly Furtado fez o seu tão aguardado comeback com o álbum “7”, lançado em setembro de 2024. Sete anos após seu último trabalho, “The Ride” (2017), e com a promessa de trazer uma coletânea de criações que se estendem por quatro anos e mais de 400 composições. A diva dos anos 2000 apresenta um projeto que é tão eclético quanto sua trajetória. Com um elenco de colaboradores que vai desde Tove Lo até Bomba Estéreo, e produtores como WondaGurl e T-Minus, “7” transita por uma infinidade de estilos e experimentos sonoros.

Crítica: Nelly Furtado, “7” | Foto: Reprodução

A volta de Nelly já tinha dado seus primeiros sinais com o single “Love Bites“, que combina a eletricidade de Tove Lo e a batida experiente de SG Lewis. A música rapidamente encontrou seu espaço nas pistas de dança, chegando ao 2º lugar nas paradas Dance/Mix Show Airplay da Billboard. E se o primeiro single foi um aceno para o lado festeiro de Nelly, o segundo, “Corazón“, trouxe uma vibe mais tropical, numa colaboração cativante com os colombianos do Bomba Estéreo, que se destacou no verão de 2024.

A promessa de algo grandioso, no entanto, se reflete mais no conceito do que na execução. “7” é uma verdadeira salada musical, como se Nelly tivesse decidido esvaziar o baú de ideias acumuladas ao longo dos anos e ver o que funcionava. Esse é um dos charmes do álbum, mas também uma de suas falhas. O público, que acompanhou as diferentes facetas da artista desde o pop-folk de “Whoa, Nelly!” até a fase eletrônica e sedutora de “Loose”, encontra aqui um projeto que tenta abraçar todas essas versões ao mesmo tempo. A variedade é tanta que se torna um tanto caótica em certos momentos.

O maior problema talvez seja a duração das faixas. Muitas delas, como “Better than Ever” e “Crown“, têm um potencial imenso, mas parecem rascunhos de ideias inacabadas, como se faltasse uma lapidação final para torná-las memoráveis. E claro, temos aqueles descartes, como “Floodgate” e “Take Me Down“, que não acrescentam em nada e poderiam ter ficado no fundo do baú.

Mas nem tudo é confuso nessa confusão musical. Há lampejos de genialidade no retorno à atitude de “Loose” em faixas como “Ready for Myself” e “Love Bites“. E para os saudosistas, músicas como “Save Your Breath” e “Better for Worse” refletem o estilo mais intimista de “Folklore” e até do icônico “Whoa, Nelly!”. Para quem esperava a Nelly mais experimental e menos comercial, essa é uma boa notícia.

A produção do álbum, em sua maioria, é polida e bem acabada, embora algumas faixas pareçam um tanto genéricas, como “Honesty” e “Fantasy“. Mas no geral, a produção traz à tona o que Nelly sabe fazer de melhor: criar um ambiente onde a diversão é a regra. “Corazón“, por exemplo, gruda na cabeça de um jeito que nem o tempo parece ser capaz de apagar, e “Better for Worse” tem uma produção vocal que é simplesmente intensa.

É claro que o álbum tem seus tropeços. As letras, em alguns momentos, soam básicas demais para uma artista tão talentosa como Nelly Furtado. Além disso, a organização das faixas não faz sentido sonoramente, o que faz com que o álbum não tenha uma fluidez. Mas no fim, talvez essa seja a intenção: ser uma coleção de momentos, de experimentos soltos, como Nelly mesma diz. Afinal, quem precisa de coesão quando se pode simplesmente colocar no modo aleatório e se divertir?

No final das contas, “7” não é o melhor álbum de Nelly Furtado, mas também está longe de ser o pior. Ele encontra seu lugar no meio do caminho, como um mosaico de uma artista que nunca teve medo de se reinventar. E mesmo que as músicas nem sempre cheguem ao ápice de suas potencialidades, a diversão está garantida. Se a missão era criar portais para escapar da realidade, Nelly Furtado conseguiu. E quem disse que não precisamos disso agora mais do que nunca?

Nota final: 65/100

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