Taylor Swift voltou com “The Tortured Poets Department”, lançado em 19 de abril de 2024, e como esperado, o disco quebrou recordes de streaming e vendas na primeira semana. Até aí, nenhuma surpresa. Afinal, Swift não lança apenas álbuns, ela movimenta uma verdadeira legião de fãs e seguidores devotos. Mas nem todos os fenômenos são intocáveis, e “TTPD” mostra que até as maiores estrelas podem tropeçar, especialmente quando o foco parece se perder em meio à grandiosidade da própria fama.
Desde que Swift começou a trabalhar no álbum, logo após o lançamento de “Midnights” (2022), ficou claro que ela estava buscando algo que a reconectasse com a composição visceral que a transformou na artista que é hoje. E sim, há faíscas dessa habilidade ao longo do álbum. A parceria com Jack Antonoff e Aaron Dessner, por exemplo, traz momentos sonoros que remetem ao melhor de sua fase indie-pop em “Folklore” e “Evermore”. No entanto, “The Tortured Poets Department” muitas vezes parece se estender mais do que deveria, e a tal “tábua de salvação” que Swift menciona ao descrever o projeto nem sempre encontra profundidade suficiente para sustentá-lo.
O álbum é uma mistura de synth-pop, chamber pop e folk-pop, com elementos de rock e country, o que já é uma receita conhecida para a cantora. No entanto, ao contrário dos trabalhos anteriores, onde Swift parecia dominar as transições entre gêneros, aqui a fusão soa um pouco forçada, como se estivesse tentando agradar diferentes públicos, mas sem a mesma coesão. Algumas faixas, como o primeiro single “Fortnight”, trazem o brilho pop pelo qual ela é conhecida, mas outras caem na repetição temática e musical. É aquele tipo de disco que, depois de algumas músicas, parece se arrastar – o que é especialmente problemático para um álbum duplo.
As participações de Post Malone e Florence and the Machine são tentativas claras de trazer algo fresco, mas acabam soando deslocadas, sem realmente agregar valor ao projeto como um todo. A melancolia que Swift tenta explorar, enquanto navega entre o público e o privado, se torna um tanto previsível. Autoconhecimento, ilusão, raiva, luto – esses temas já foram explorados por ela com muito mais sutileza e impacto em trabalhos anteriores.
É claro que Swift continua sendo uma compositora afiada, e há trechos líricos que se destacam. Mas, no contexto geral do álbum, eles se perdem em um mar de reflexões que parecem batidas e, às vezes, superficiais. O que poderia ser uma exploração íntima e poderosa de sua vida pública e privada acaba por soar repetitivo, quase como se a artista estivesse reciclando dores antigas sem trazer nada novo para a mesa.
O sucesso comercial, por outro lado, é indiscutível. “The Tortured Poets Department” esmagou recordes no Spotify e dominou as paradas globais. Mas é aí que está o dilema: o sucesso de Swift enquanto fenômeno não necessariamente reflete a qualidade artística deste álbum em particular. Em vez de ser uma obra-prima catártica, “TTPD” parece mais um esforço cansado para atender às expectativas de um público que, a essa altura, já idolatra qualquer coisa que ela lance.
No fim das contas, “The Tortured Poets Department” é um disco feito para os devotos. Para os que enxergam Taylor como uma deusa da música, um álbum que ecoa suas inseguranças e vitórias pessoais é mais do que suficiente. Para o ouvinte mais crítico, no entanto, este trabalho se desdobra de maneira desigual, com mais baixos do que altos. Sim, há uma ou duas faixas que se destacam, mas nada que a faça voltar ao auge criativo que vimos em álbuns como “Folklore” ou mesmo “1989”.
Se “The Tortured Poets Department” é, de fato, o reflexo de uma artista no auge de sua carreira, ele nos deixa com a sensação de que Swift talvez precise reavaliar seus próximos passos. Em algum momento, o brilho e a pompa deixam de disfarçar a necessidade de uma direção mais focada.
Nota Final: 58/100.