Ninguém nascido em Caruaru, a cantada e decantada “Capital do Forró”, consegue evitar ser arrastado pela força de uma tradição tão forte, que nem a multimilionária indústria do pop sertanejo, mesmo predominando no principal palco junino da cidade, conseguiu destruir. No meio da pandemia, em São Paulo, o caruaruense Ortinho foi pego pela energia de fio desencapado de suas raízes, e não deu outra: caiu no forró. Compôs um balaio deles, quatro dos quais antecipa no EP “Caruarus” que, por sua vez, também é o título do álbum que lança em 2022. Em vez de liberar as canções em doses homeopáticas, os tais singles, Ortinho antecipa quatro de uma só tocada nesta sexta-feira (28): Não Desarme A Rede (com Zeca Baleiro e Josildo Sá), Caçuá (mais Chico César e Lula Viegas), Se Não Eu Morro (de Ortinho, Zeca Baleiro e Anastácia), A Vida É Um Poema (dele e de Yuri Queiroga).
Cada canção tem uma característica diferente. Não Desarme A Rede, por exemplo, é um xote, com clima de rock rural, enquanto em Senão Eu Morro o timbre da sanfona de André Julião lembra Dominguinhos, com o resfolegado que Luiz Gonzaga criou para poder falar no meio da música. E harmonizam com primor os timbres nordestinos de Zeca Baleiro com o de Ortinho. Atenção para a levada do xote, num compasso perfeito, nem muito ligeiro, nem muito devagar, sutilezas do ritmo que só os que o conhecem muito sabem fazer. A canção tem a envergadura de outros sucessos de Anastácia, como Eu Só Quero Um Xodó, uma composição da Rainha do Forró junto com Dominguinhos, gravada por Gilberto Gil.