Filmado em um impressionante preto e branco, digno de comparações com Christopher Nolan, “Lola” se destaca como um filme de cult instantâneo. Andrew Legge dirige seu próprio roteiro, coescrito com Angeli Macfarlane, ambos estreando em longas-metragens. Eles optam por uma mistura de filmagens encontradas e material novo antiquado, apresentando-se como um documentário perdido, descoberto 80 anos depois. Essa abordagem dá ao filme uma autenticidade única, transportando o espectador em uma realidade alternativa onde o passado e o futuro se entrelaçam de maneira fascinante.
Atualmente em cartaz no Festival Filmes Incríveis, para mais informações basta clicar aqui.
As irmãs Thomasina e Martha, engenheiras autodidatas e de gênero fluido, são personagens complexas. Elas não só criam uma máquina capaz de interceptar a mídia de transmissão do futuro, como também a utilizam para tentar acabar com a Blitzkrieg de Londres, alterando o curso da guerra. Essa premissa lembra a história real de Alan Turing, que projetou uma máquina para decifrar o Enigma, usada para antecipar e negar ataques durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, ao contrário de Turing, cuja história é marcada por uma tragédia pessoal, as irmãs enfrentam suas próprias consequências ao manipular o futuro.
O filme mistura realidade com ficção de forma impressionante, amarrando seu paradoxo bootstrap de forma elegante. Os locais, adereços e guarda-roupas do material novo antiquado são convincentes e parecem ter sido realmente feitos em 1941, embora com equipamentos modernos. As performances das atrizes são geralmente boas, contribuindo para a atmosfera autêntica e envolvente do filme.
No entanto, o terceiro ato resolve uma questão incômoda que persiste durante toda a experiência de visualização: por que o documentário dentro do filme está sendo feito dessa forma? A resolução não é pequena e chega justificadamente atrasada, mas azeda a visualização inicial. Saber antecipadamente por que o documentário foi feito daquela maneira pode ser recompensador para visualizações subsequentes.
Outra falha significativa é que o documentário curiosamente usa músicas que os cineastas dentro do filme não usariam plausivelmente em seu próprio documentário. A trilha sonora tem momentos divertidos em geral, mas não convence no terceiro ato quando aplicada ao documentário dentro do filme.
O filme aborda sutilmente a fluidez de gênero, explorando a linha tênue e às vezes arbitrária entre mulheres e homens, civis e soldados, pacifistas e beligerantes, antifascismo e fascismo. Embora esse tema seja um pouco subdesenvolvido, há algumas noções intrigantes que merecem destaque.
Além disso, “Lola” passa no teste de Bechdel com muitas conversas entre pelo menos duas mulheres sobre assuntos que não envolvem homens, incluindo engenharia, alertar o público e táticas militares. Pontos de bônus merecidos por isso.
“Lola” é uma obra que merece ser vista, discutida e revisitada. É um filme que não apenas nos entretém, mas também nos faz refletir sobre o poder da informação e as responsabilidades que vêm com ela. Em um mundo onde o passado e o futuro podem se cruzar de maneiras inesperadas, “Lola” nos lembra que nossas ações, por mais pequenas que sejam, podem ter repercussões imensas.
Lola: ✩✩✩✩
Confira também: Com Olivia Colman no elenco “Pequenas Cartas Obscenas” chega aos cinemas em 25 de julho
Comments 2