MC Fioti: do funk da periferia de São Paulo para o mundo

Os cabelos azuis de MC Fioti fizeram de Leandro Aparecido Ferreira, 25 anos, um marco dentro do funk nacional. Amplamente conhecido ao samplear a partitura em lá menor para flauta solo de Sebastian Bach, no sucesso “Bum Bum Tam Tam”, inspiração encontrada depois de diversas pesquisas pelos sucessos de Dr. Dre – rapper, produtor, editor musical, empresário e ator americano, de quem o funkeiro é fã confesso.

Intrigado para descobrir o que Bach tinha para oferecer, o artista pesquisou diversas obras até chegar na famosa flauta. “Quando a flauta tocou, eu achei genial, falei: ‘vou fazer uma música com isso! Baixei, fiz a batida primeiro e, na sequência, fiz a letra’”. Tudo aconteceu em questão de horas: o beat, a voz e a produção. Com a faixa pronta, o clipe ganhou espaço de gravação na garagem do antigo escritório. Assim nasceu o sucesso, responsável por tornar Fioti o primeiro artista brasileiro a bater 1 bilhão de views no YouTube. Hoje, o número já ultrapassa 1,3 bilhões.

“Bum Bum Tam Tam”, que também ganhou remixes dos consagrados J Balvin e David Guetta, foi mais que a realização de um sonho. Para quem é da favela, como conta Fioti, o sonho é de subir no palco da comunidade, na quebrada, e cantar pros vida loka. Bater 1 bilhão de visualizações estava longe de ser sonho, a meta era, quem sabe, chegar no primeiro milhão. “É uma sensação inexplicável, eu não canto sertanejo, não canto samba, não canto nenhuma música com uma superestrutura, só quem é do funk sabe o a gente passa”. Usar o beat box para fazer a marcada e conhecida batida do gênero, no melhor ritmo do “tcha tchum tcha tcha”, foi o impulso que o funkeiro precisava para ganhar os holofotes, inclusive, internacionais.

Fioti, criado no Jardim Eledy, periferia de São Paulo – capital, carrega no nome artístico a essência das gírias de favela. O apelido de rua, surgiu porque, desde sempre, ele foi o menorzinho da turma. “Sempre andei com gente grande, que pudesse me passar uma visão da rua, dos crias, essas fitas. E os caras me chamavam de Fioti. Deixei assim e, como era gíria, acabou ficando”.

Ele, que começou como qualquer menino da periferia, tinha aquele sonho de ser jogador de futebol. Mas, com 15 para 16 anos, descobriu a música, na verdade o funk. Já ouvia muito rap também, mas, foram as batidas animadas que ganharam espaço nas produções do computador velho e emprestado pelo amigo.

A primeira produção saiu sem pretensão, foi feita mesmo para os moleques da quebrada, quebrada essa em que mora até hoje. Foi falando da vida e dia a dia da comunidade que o sucesso orgânico chegou, as músicas conquistaram a galera. Apesar de nunca ter estudado música, o artista pesquisou muito sobre como os DJs faziam para produzir. Baixou dois programas e começou a vida. Foi com essa primeira conquista que pensou: “tenho algum talento, se eu consegui desenrolar uma parada sem estudo, sou capaz”.

Dos momentos marcantes destes dez anos de carreira, “Senta Novinha”, primeira música com o MC Lan – 8 milhões – e “Vai Toma”, com MC Pikachu, – 85 milhões de visualizações –, abriram espaço para a, até então, não lançada “Bum Bum Tam Tam”.

Produtor, compositor e responsável pelos arranjos e melodias das próprias faixas, o artista, que já atendeu em lojas de fast food e trabalhou como ajudante de pedreiro, se inspira nos grandes nomes da cena rap nacional: Racionais, Sabotage, Trilha Sonora do Gueto e RZO, além dos globalmente conhecidos Dr. Dre – com quem sonha fazer uma parceria, Ice Cub, Tupac e Eminem. Quando perguntado sobre referência dentro do funk, é direto: MC Da Leste.

Conhecido no cenário internacional, o artista foi convidado pelo DJ Gianluca Vacchi, para uma apresentação, durante o set dele na Tomorrowland que aconteceu na Bélgica, em 2019. “ Foi uma sensação única e eu agradeço muito a ele. O palco era dele e ele cedeu um espaço para mim. Ele tem muito carinho por mim e já me falou isso. Como ele é latino, disse que nós latinos temos que nos juntar, unirmos forças para dominarmos o cenário. Ele mesmo me falou que o futuro da música é latino”. MC Fioti foi o primeiro funkeiro, daquele que bota o beat box pra rolar, no melhor estilo favela, a chegar a um dos maiores festivais de música eletrônica, se não o maior, do mundo. Anitta se apresentou no mesmo ano, um dia depois do artista.

MC Fioti celebra outros sucessos. “Lua do Luar” feat. com MC Ju Bronx e MC Vaginho, com mais de 12 milhões de visualizações é uma das recentes estreias, que fica completo com “Estoy Aquí”, faixa com Mr. Vegas, Topo La Maskara e feat. de Amara La Negra, em pouco mais de duas semanas, são mais de 400 mil views.

Ouça: “Estoy Aqui”:

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