Se tem uma coisa que a música pop ama, além de coreografias virais e clipes cheios de glitter, é dar aquela reciclada básica em músicas do passado. Mas não estamos falando de covers. É o famoso sample – quando um trecho de uma música é “pescado” e transformado em outra obra de arte. A prática já existe há décadas, mas nunca foi tão popular como agora, trazendo sons de décadas passadas de volta aos holofotes. Se feito direito, o sample não só homenageia a original como cria um novo hit de rádio. Vamos embarcar nesse túnel do tempo e ver como o pop reinventou sons antigos para criar algo totalmente novo.
Como funciona o sample?
O processo de samplear pode parecer simples: basta pegar uma parte de uma música já existente, fazer uma leve edição e encaixar na sua nova faixa. Mas é aí que mora o segredo! O sample precisa ser estrategicamente colocado, com a batida certa, no momento certo, para soar como uma peça única, não um “remendo” de outra canção.
Tecnicamente falando, o sample geralmente envolve uma sequência de notas, batidas ou vocais que são editados para se ajustarem ao novo BPM (batidas por minuto) e à melodia. Ferramentas como DAWs (Digital Audio Workstations) – o Ableton Live e o FL Studio são queridinhos – ajudam na manipulação criativa. Além disso, mexer no pitch (a altura do som) e na EQ (equalização) pode transformar totalmente o trecho original.
Mas atenção: não basta sair jogando samples por aí! Direitos autorais são uma grande questão. Qualquer uso de trecho de outra música exige autorização dos donos do trabalho original. E tem uma turma do pop que sabe brincar com isso de forma magistral. Vamos a alguns exemplos icônicos.
Um clássico para chamar de seu
Uma das rainhas do sample é Beyoncé, que já fez isso várias vezes, mas uma das mais icônicas foi em “Crazy in Love“, de 2003. O saxofone explosivo que você ouve logo de cara? Sim, isso foi tirado de “Are You My Woman? (Tell Me So)” do The Chi-Lites, uma banda de soul dos anos 70. A diferença? Beyoncé e Jay-Z transformaram o que era uma balada suave em um hino para sacudir as pistas de dança.
Outro grande exemplo? Rihanna, que soube muito bem como pegar “Tainted Love”, de Soft Cell, em sua faixa “SOS“. O loop repetitivo e hipnótico de “SOS” garantiu um hit instantâneo, transportando uma vibe oitentista para a energia frenética dos anos 2000.
Samples que renovaram gêneros
O sample não serve só para criar um hit. Ele também redefine o som de toda uma geração. O Daft Punk fez isso com maestria, elevando a música eletrônica ao samplear trechos de disco e funk dos anos 70. Um dos mais memoráveis é “Harder, Better, Faster, Stronger”, que traz fragmentos de “Cola Bottle Baby“, do cantor de funk Edwin Birdsong. O duo francês, além de respeitar a tradição, conseguiu mesclar suas batidas futuristas com a nostalgia vintage.
O hip hop, por sua vez, é praticamente o reino dos samples. Basta pensar no hit “Gold Digger”, do Kanye West, que revive a soul de Ray Charles. A batida, o ritmo e até os vocais de “I Got a Woman” são transportados para um universo completamente novo – e com muito mais bling. Kanye é mestre em usar essa técnica para criar sons cheios de identidade.
Samplear é arte, mas não sem controvérsias
É claro que, no mundo da música, o sample não está imune a polêmicas. Muitas vezes, artistas são processados por não terem pedido permissão ou não terem dado o devido crédito. Um dos casos mais famosos é de Robin Thicke, com o mega hit “Blurred Lines”, que soou um pouco demais como a clássica “Got to Give It Up”, de Marvin Gaye. Resultado? Um processo milionário e um belo exemplo de que samplear exige respeito à obra original.
Mas quando tudo é feito com ética e autorização, o resultado é espetacular. É como uma conversa entre gerações de músicos, onde cada um contribui com sua parte e mantém viva a história da música.
Por que o pop ama tanto os samples?
No fundo, o uso do sample é uma homenagem moderna àquilo que já foi feito. As gerações mais novas conseguem curtir algo que provavelmente não ouviriam, enquanto as antigas se reconectam com sons que marcaram suas vidas. Além disso, as plataformas digitais, como TikTok, ajudaram a amplificar essa tendência. É só ver o sucesso de “Dreams”, do Fleetwood Mac, que ressurgiu graças a um vídeo viral, fazendo com que a canção dos anos 70 fosse redescoberta por milhões de pessoas.
O sample no pop é quase como um deja vu musical – soa familiar, mas ao mesmo tempo novo e empolgante. É uma forma de revisitar o passado com um olhar fresco, dando nova vida a sons antigos e, de quebra, criando hits que definem a era moderna.
Então, da próxima vez que ouvir aquela batida que parece vinda de outra época, saiba que ela pode ser uma verdadeira viagem no tempo – só que com um toque de criatividade da era do TikTok.
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