O cinema vive um momento singular no Brasil. De um lado, diretores já consagrados expandem suas narrativas e aprofundam suas linguagens, de outro, novos nomes surgem com força, trazendo histórias que atravessam fronteiras estéticas e temáticas. O resultado é um conjunto poderoso de obras que provoca, emociona, incomoda e reafirma a vitalidade artística do nosso audiovisual.
Cada produção presente nesta lista carrega seu próprio universo, sua escrita visual, sua urgência dramática e sua marca dentro do cenário cultural. Aqui, o olhar se volta para longa-metragens que dialogam com passado, presente e futuro, investigando identidades, enfrentamentos históricos, afetos, silêncios, memórias, política e humanidade. São filmes que criam experiências cinematográficas intensas e diversas, reafirmando o impacto e a relevância do cinema brasileiro. A seguir, cada título recebe seu espaço para brilhar, ser compreendido, analisado e sentido em toda sua força e singularidade.

“O Agente Secreto”
Kleber Mendonça Filho constrói em “O Agente Secreto” uma narrativa política de vigilância, paranoia e identidade fragmentada. A trajetória de Marcelo, interpretado por Wagner Moura, transforma o Recife de 1977 em um tabuleiro silencioso de controle e violência. A cidade, aparentemente acolhedora, se torna um organismo vivo que monitora, pressiona e comprime o protagonista, revelando que segurança e ameaça caminham lado a lado no país daquele período. O filme articula memória, política urbana e o peso do passado como elementos narrativos e estéticos, instaurando um suspense social que cresce a cada cena e reafirma a relevância do diretor na história contemporânea do cinema brasileiro.
“Manas”
“Manas” apresenta uma construção dura, sensível e profundamente consciente da estrutura de violência que atravessa meninas periféricas em formação. Marcielle surge como corpo em transformação, inteligência desperta e sensibilidade brutalizada pelo ambiente. O filme observa a engrenagem social que governa mulheres jovens em territórios marcados pela ausência de perspectivas e inscreve a protagonista em um espaço de resistência. A narrativa traduz com precisão a ruptura de um imaginário infantil diante de uma realidade que exige decisões extremas, revelando o retrato de uma juventude forçada à maturidade pela urgência da sobrevivência.
“O Último Azul”
O Brasil distópico de “O Último Azul” projeta no futuro um debate urgente do presente: o descarte social de corpos considerados improdutivos. A jornada de Tereza, aos 77 anos, coloca em cena o conflito entre Estado e individualidade, examinando até onde vai o direito de existir quando a lógica política trata vidas como custo. A viagem pelos rios amazônicos transforma-se em um rito de dignidade e desobediência civil silenciosa. A estética da narrativa contrasta paisagem natural e brutalidade política, ampliando o impacto emocional em torno da pergunta central: o que significa viver quando o governo decide o momento de exílio?
“Vitória”
“Vitória” eleva o olhar e a câmera de uma mulher idosa à condição de ato investigativo. Fernanda Montenegro constrói uma personagem movida pelo desejo de registrar a verdade em uma sociedade pautada por omissões. A ação de ligar uma câmera e filmar a rua se transforma em gesto político de resistência, insinuando que vigilância também pode vir de baixo. O filme discute solidão, poder comunitário e violência urbana, aproximando-se de um thriller social onde a protagonista tenta romper o silêncio de um bairro que prefere o medo à denúncia.
“Homem com H”
“Homem com H” vai além da cinebiografia tradicional e se afirma como retrato de um artista que revolucionou linguagem, postura e identidade cultural. Ney Matogrosso ocupa o centro de um relato que combina performance, contracultura, política e musicalidade como forças transformadoras. A narrativa expõe a violência simbólica de uma sociedade conservadora diante da liberdade de um corpo que se recusa a obedecer. A obra reafirma o impacto histórico de Ney no imaginário nacional, destacando a potência estética de sua carreira e a dimensão política de sua existência artística.
“Baby”
“Baby” se instala no subterrâneo urbano paulistano e observa a construção de masculinidades fragilizadas e corpos marginalizados tentando se reorganizar no mundo pós-internação. O filme não romantiza suas figuras centrais e investiga a ambiguidade da relação entre Baby e Ronaldo como espelho de afeto e exploração. O recorte em cinemas pornôs, ruas e sobrevivência expõe uma São Paulo menos idealizada, onde a saída é precária e o afeto se articula como tática de proteção. O longa reafirma Marcelo Caetano como um dos principais observadores do corpo urbano brasileiro contemporâneo.
“Ritas”
O documentário “Ritas” abre um arquivo íntimo e histórico, devolvendo ao público uma dimensão de Rita Lee que ultrapassa o mito. As imagens, depoimentos e reflexões costuram memória pessoal e trajetória artística de forma orgânica. O filme destaca o legado da cantora na luta feminista dentro do rock brasileiro e evidencia a importância estética, política e comportamental da artista para múltiplas gerações. A narrativa se constrói como tributo, mas também como documento fundamental sobre liberdade criativa e reinvenção.
“Cyclone”
“Cyclone” articula maternidade, desejo artístico e violência patriarcal em um recorte histórico que revela a fragilidade das possibilidades femininas no início do século XX. Dayse encarna o dilema entre vocação e sobrevivência, e o filme expõe o preço pago por mulheres que ousaram sonhar em períodos governados por moral rígida. A atmosfera de tensão cresce com o avanço da gravidez inesperada, transformando o corpo da protagonista em campo de batalha entre arte e imposição social. A narrativa ilumina um Brasil que tenta controlar quem cria e quem ousa decidir seu destino.
“O Filho de Mil Homens”
“O Filho de Mil Homens” desloca a discussão de família para um espaço simbólico onde filiação se constrói por afeto e decisão, não por biologia. A relação entre Crisóstomo e Camilo desafia modelos tradicionais ao propor que a construção familiar pode ocorrer como encontro entre solidões. A chegada de Antonino e Isaura amplia o desenho afetivo e reforça o caráter coletivo da obra. O longa investiga pertencimento e cuidado, tratando a criação de vínculos como escolha ética e emocional, em contraste com o julgamento social imposto aos personagens.
“Eros”
“Eros” transforma o motel brasileiro em laboratório social. A diretora Rachel Ellis constrói um mosaico íntimo definido por múltiplos registros captados pelos próprios protagonistas. O resultado é um recorte da sexualidade brasileira longe dos clichês, onde desejo, insegurança, afeto e performance se misturam como camadas de uma mesma experiência humana. O filme expõe relações contemporâneas sob prisma cinematográfico experimental, e o motel, antes espaço estigmatizado, se revela território de vulnerabilidades, rituais amorosos e reinvenção identitária.
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