“Debí Tirar Más Fotos” solidifica Bad Bunny como um dos artistas mais inovadores e influentes da música latina. Neste álbum, Benito Antonio Martinez Ocasio, nome de batismo de Bad Bunny, explora profundamente as suas raízes porto-riquenhas, mesclando gêneros tradicionais e contemporâneos em uma produção detalhista que evidencia tanto sua versatilidade quanto seu comprometimento com a arte. O disco se apresenta como uma experiência complexa, onde a riqueza sonora é complementada por uma sutileza que reflete questões culturais e pessoais.
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A produção de “Debí Tirar Más Fotos” é um dos grandes acertos do álbum. A integração de elementos como salsa, bomba, plena e música jibara demonstra um profundo respeito pelas tradições musicais de Porto Rico, enquanto o uso de batidas eletrônicas e house adiciona uma dimensão complexa. Essa combinação é evidente em faixas como “El Club”, que alia a modernidade de uma pista de dança à melancolia convidativa, e “Baile Inolvidable”, onde a salsa se torna uma celebração das relações humanas.
“Lo Que Le Pasó a Hawaii” é uma das canções mais significativas do álbum. Nesta faixa, Bad Bunny aborda a gentrificação cultural de Porto Rico e traça um paralelo com a história do Havaí. O tom contemplativo da música, aliado a uma instrumentação que combina tradições locais com uma produção moderna, oferece um vislumbre da luta pela preservação da identidade cultural. O impacto emocional dessa faixa vai além da música, tornando-se um manifesto contra a perda da autonomia cultural.
Outro ponto forte é a forma como o álbum utiliza colaborações. Embora algumas parcerias, como as de Omar Courtz e RaiNao, pareçam deslocadas no contexto geral, outras, como a de Los Pleneros de la Cresta, se destacam pela autenticidade e pela contribuição ao conceito do álbum. Essa escolha de incluir majoritariamente artistas porto-riquenhos reforça a mensagem de exaltação das raízes culturais e o compromisso de Benito com sua terra natal.
A estrutura do disco também merece destaque. Desde a introdução até as faixas finais, “Debí Tirar Más Fotos” apresenta uma narrativa coerente que equilibra momentos mais isolados e celebração. Músicas como “NuevaYol” e “Café con Ron” exemplificam a habilidade do cantor em transitar entre diferentes atmosferas sonoras, enquanto “Turista” se destaca pela sofisticação de seu arranjo, trazendo o bolero romântico para o centro da experiência auditiva.
O conceito visual do disco também contribui para sua profundidade. A capa, inspirada em livros de receitas dos anos 2000, cria uma conexão com a nostalgia e a tradição, enquanto o curta-metragem que acompanha o lançamento expande o impacto artístico do projeto. A colaboração com Jacobo Morales, reconhecido por seu trabalho cinematográfico e teatral, adiciona uma camada de sofisticação que reforça a ambição do álbum.
A questão do reggaeton, que aparece de forma mais discreta neste projeto, também merece análise. Embora o gênero seja uma marca registrada de Bad Bunny, sua abordagem aqui é mais contida, servindo como base para experimentações ao invés de dominar o álbum. Isso é particularmente evidente em “EoO”, onde as batidas urbanas são moldadas para complementar a narrativa sem se sobrepor a ela.
“Debí Tirar Más Fotos” é um projeto que demonstra um alto nível de intenção artística. Cada escolha (seja na produção, na colaboração ou na composição) parece deliberada e pensada para enriquecer a experiência do ouvinte. Benito não apenas apresenta um disco, mas um documento que captura a essência de sua visão artística e de sua relação com Porto Rico.
O disco é uma declaração poderosa de um artista em seu auge. A combinação de experimentação sonora, lirismo profundo e comprometimento cultural resulta em um álbum que consolida Bad Bunny como um dos maiores nomes da música latina.
Nota final: 90/100
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