“More Chaos”, quarto álbum de estúdio de Ken Carson, é um projeto que amplia e intensifica a sonoridade estabelecida em “A Great Chaos” . Lançado em 11 de abril de 2025, o disco confirma uma estratégia de continuidade estética e sonora, ainda que com momentos de tentativa de refinamento. A produção assinada por nomes já frequentes no universo da Opium (como F1lthy, Lil 88, Star Boy e Outtatown) aponta para um núcleo criativo já consolidado, que investe em uma sonoridade altamente digitalizada, calcada na estética rage, marcada por graves superprocessados e sintetizadores abrasivos. A colaboração com Playboi Carti e Destroy Lonely reforça o alinhamento de Carson ao ethos da gravadora, mas também evidencia limitações de um universo que começa a exibir sinais de saturação.
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O ponto mais evidente de “More Chaos” é sua produção maximalista, construída sobre camadas densas de distorção e batidas fragmentadas, em que a textura é mais importante do que a clareza. Há mérito técnico na forma como batidas como “Liveleak” e “Root Of All Evil” trabalham a sobreposição de ruídos e graves saturados, mas o álbum sofre com uma mixagem desigual, que por vezes prioriza o caos em detrimento da inteligibilidade. A masterização é agressiva por definição, característica da estética rage, mas falta equilíbrio em faixas como “Trapjump”, cujo instrumental mal sustenta a proposta melódica. Por outro lado, momentos como “Lord of Chaos” e “Money Spread” demonstram maior rigor composicional, oferecendo beats mais definidos, com variações rítmicas que ampliam a escuta.
Ken Carson entrega algumas de suas performances mais intensas até o momento, ajustando seu fluxo para combinar com o caráter hostil das faixas. O rapper alterna entre versos cuspidos com fúria e refrões estruturados em frases curtas e repetitivas fórmula central do subgênero. A lírica, embora ainda limitada em alcance temático, mostra certo amadurecimento ao abandonar parcialmente a fórmula automática que prejudicava projetos anteriores como “X”. Em “More Chaos“, há mais controle sobre o pacing interno das faixas e sobre o uso de pausas e retomadas. Mesmo quando o conteúdo continua girando em torno de braggadocio, consumo de substâncias e referências autocelebratórias, a entrega vocal mostra mais confiança.
O principal problema da execução lírica continua sendo a repetição exaustiva de bordões (como as gírias “YVL” e “005”) que carecem de densidade simbólica e tornam-se descartáveis. Além disso, a última faixa, com participação de Destroy Lonely, sofre de uma apatia técnica difícil de ignorar. A entrega de Carson é sonolenta, e o verso parece gravado em uma única tomada, sem ajustes de interpretação ou correções de timing.
Apesar das 20 faixas, o álbum se mantém surpreendentemente coeso. A sequência foi visivelmente pensada para manter a energia em alta nos momentos certos e dar respiros curtos em trechos intermediários. Ainda que o volume de material amplifique o risco de redundância, problema crônico em projetos do selo Opium, “More Chaos” evita uma linearidade tediosa e apresenta variações tímbricas e rítmicas suficientes para sustentar uma escuta completa. Faixas como “2000” e “Blakk Rokkstar” exemplificam isso com ganchos bem resolvidos e dinâmicas mais trabalhadas.
“More Chaos” não é um ponto de ruptura na discografia de Ken Carson, mas também não se reduz a uma reciclagem preguiçosa de A “Great Chaos“. O disco reforça sua identidade sonora ao mesmo tempo em que busca pequenos ajustes estruturais e tímbricos, com um desempenho vocal mais intenso e uma sequência mais consistente. O problema continua sendo a limitação estética do rage enquanto subgênero, que já mostra sinais de desgaste. Ken Carson, porém, parece ciente disso, e seu comprometimento com a entrega vocal e com a integridade estética do projeto indica que há margem para evolução. Um disco eficiente dentro de sua proposta e que confirma Carson como o nome mais tecnicamente interessante da Opium neste momento.
Nota final: 72/100
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