“Strange Darling” é um daqueles thrillers que não se encaixam em moldes previsíveis. Dirigido por JT Mollner, o filme desafia convenções ao construir uma narrativa que mistura tensão, violência e uma dose de estilo visual de tirar o fôlego. A história pode parecer simples à primeira vista, uma mulher ferida tentando escapar de um predador implacável nas florestas do Oregon, mas a complexidade de como tudo é contado é o verdadeiro destaque. A estreia no Brasil está marcada para 13 de março de 2025, e quem gosta de um suspense inteligente vai encontrar aqui muito mais do que apenas sustos.
O filme é dividido em seis capítulos, e a estrutura não cronológica confunde e instiga, mantendo a audiência sempre na dúvida sobre o que realmente está acontecendo. É uma escolha narrativa arriscada, mas que funciona incrivelmente bem. Há algo de Tarantino no jeito como “Strange Darling” se desenrola, sempre contrariando as expectativas do público. O jogo de gato e rato entre os protagonistas nunca segue a rota óbvia. Em vez disso, o filme vira em direções inesperadas, deixando a audiência desorientada, e é justamente essa imprevisibilidade que mantém o nível de tensão nas alturas.
A cinematografia, assinada por Giovanni Ribisi (sim, o próprio), é um espetáculo à parte. Filmado em 35mm, o longa oferece uma textura rara de se ver nos tempos atuais, dando uma sensação de crueza às cenas de perseguição e aos momentos mais íntimos de violência. As sequências que se passam em um motel, por exemplo, têm uma paleta de neon vermelho que não só capta o olhar, mas intensifica a sensação de perigo iminente. Tudo aqui é visualmente calculado para amplificar a paranoia e o desconforto.
Se o visual impressiona, o elenco eleva o material a um nível ainda mais alto. Willa Fitzgerald, no papel da Dama, entrega uma performance carregada de nuances. Sua personagem não é apenas uma vítima indefesa tentando escapar, mas alguém que carrega camadas de força e vulnerabilidade. Já Kyle Gallner, que sempre teve uma presença marcante em filmes de terror, aqui se consolida como uma das figuras mais inquietantes do cinema recente. A dinâmica entre os dois cria uma espécie de dança macabra que é tanto fascinante quanto perturbadora. Gallner, em especial, parece ter nascido para esse tipo de papel, trazendo uma intensidade ameaçadora que transcende os diálogos.
O ritmo do filme pode ser considerado lento por alguns, mas essa lentidão é estratégica. A cada cena, “Strange Darling” constrói um clima quase sufocante, onde a violência nunca está muito distante, mesmo quando o silêncio domina a tela. Esse é um thriller que exige paciência, recompensando com momentos de suspense quase insuportáveis e viradas de roteiro que fogem do lugar-comum. A sensação constante é de que algo terrível está prestes a acontecer, e essa tensão só cresce conforme os capítulos avançam.
A trilha sonora, composta por Craig DeLeon, complementa a atmosfera do filme com uma elegância soturna, nunca roubando a cena, mas sempre sublinhando as emoções em jogo. Tudo no filme parece estar em perfeita sintonia da direção de Mollner ao design de som e ao trabalho de elenco, resultando em uma experiência que é, no mínimo, inquietante.
“Strange Darling” é o tipo de filme que desafia o público a permanecer atento, a se perder em suas pistas falsas e, ao mesmo tempo, questionar o que é real dentro daquela narrativa fragmentada. Não se trata apenas de assistir, mas de ser sugado para dentro de uma história cheia de incertezas e perigos. No fim, é um thriller que não entrega respostas fáceis, mas certamente deixa marcas profundas em quem ousa embarcar nessa jornada de suspense sombrio.