Ser classificado como “pagodeiro” na década de 1990 era uma afronta. Na imprensa, rolava um embate entre os sambistas e os novos grupos que surgiam com uma sonoridade mais pop no cenário musical brasileiro. Os primeiros achavam que o pagode não tinha raiz, era uma música sem discurso. Os pagodeiros contra argumentavam dizendo que estavam modernizando a cadência do pandeiro e do cavaco, chegando em espaços nunca antes abertos para o samba.
Corta para 1º de setembro de 2020. Chega nas plataformas de streaming e com clipe no YouTube o timbre forte e ancestral de uma mulher que mistura sonoridades do samba e da cultura pop nacional. Marvvila, de 21 anos, tem a raiz na sua voz e o discurso feminista na ponta da língua que o pagode precisava. Natural de Bento Ribeiro, subúrbio do Rio de Janeiro, ela estreia na gravadora Warner Music com a música “Dizendo por Dizer”.
Depois de uma introdução feita com bateria, teclado e violino, ela começa a cantar: “Tô de olho em você / tá dizendo coisas por dizer / tá fingindo que tá bem / te conheço melhor que ninguém”. Se o pagode era marcado pela descontração da vida de solteiro ou pelo amor platônico de um homem por uma mulher, Marvvila vai inserir a subjetividade feminina nessa história: “Você diz que não, mas ama sim / Faz amor sozinho toda vez que pensa em mim / E assim só perde tempo / Por fora tá sorrindo, mas tá chorando por dentro”.
“Dizendo por Dizer” é a confirmação de Marvvila no gênero, depois de sua participação no EP de pagode da Ludmilla, chamado “Numanice”. A cantora ficou conhecida nacionalmente em 2016 no programa The Voice Brasil e ganhou a internet com seus covers de pagode e sertanejo. Agora, ela se firma trazendo todas as suas influências – Alcione, Ferrugem, Marília Mendonça e Beyoncé. Para ela, “o samba já é cheio de referências de mulheres fortes, como Alcione, Jovelina, Dona Ivone… elas e muitas outras artistas foram muito importantes para a minha geração ter mais voz na música brasileira e, principalmente, no samba. Agora, no pagode, quero levar essa força feminina, território de muitos ídolos homens. Pagode e samba são dois ritmos que conversam muito, então as mulheres precisam ocupar mais esse espaço também”.
Assista: