“Parthenope: Os Amores de Nápoles”, novo filme de Paolo Sorrentino, é uma obra visualmente deslumbrante que tenta entrelaçar mito, juventude e melancolia sob a estética da contemplação. No entanto, apesar da ambição temática e da exuberância plástica, o filme apresenta um desequilíbrio estrutural significativo que compromete sua força narrativa.
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Sorrentino continua fiel a sua assinatura visual. A direção é repleta de composições meticulosas, movimentos de câmera elegantes e iluminação poética. Cada plano parece moldado com a intenção de hipnotizar. A fotografia, que beira o onírico, é um dos grandes trunfos da obra. No entanto, a estilização visual é levada ao limite. Há momentos em que a estética parece preceder o conteúdo, com sequências que remetem mais a editoriais de moda ou anúncios de perfumes de luxo do que ao drama humano que deveriam comunicar. Essa hipertrofia da forma, sem a contrapartida de uma progressão dramática sólida, resulta em uma experiência tão bela quanto vazia.
O maior problema de “Parthenope” está em seu roteiro. A trajetória da personagem-título (da juventude à maturidade) é apresentada de forma episódica, esparsa e excessivamente alegórica. A estrutura do filme opta por pular entre momentos soltos, interações pontuais e cenas de carga simbólica, sem um arco dramático consistente. O desenvolvimento da protagonista é mais sugerido do que construído, o que compromete o impacto emocional de sua jornada.
A personagem Parthenope, interpretada por Celeste Dalla Porta, é apresentada como musa, símbolo e figura mitológica, mas raramente como pessoa concreta. Seu magnetismo serve como catalisador para outros personagens (geralmente homens mais velhos) que funcionam como emissores de máximas filosóficas. A dinâmica torna-se repetitiva: Parthenope ouve, absorve e segue adiante. Essa estrutura torna a personagem passiva e pouco envolvente, enfraquecendo o potencial dramático de seu amadurecimento.
O filme tenta dialogar com temas como o caráter transitório da juventude, a idealização do feminino e a busca por sentido existencial. São ideias fortes e recorrentes na obra de Sorrentino, mas aqui abordadas de forma fragmentada e, por vezes, superficial. Reflexões como “sexo mata o mistério” ou “você não pode ser feliz no lugar mais bonito do mundo” soam mais como slogans do que como construções dramáticas relevantes.
A juventude, em “Parthenope”, é retratada como uma espécie de estado de suspensão entre o prazer e a perda. A cidade de Nápoles funciona como pano de fundo simbólico, mas seu uso parece mais uma tentativa de exaltar um regionalismo estético do que explorar camadas sociais, culturais ou históricas com profundidade.
Ao lado de obras como “A Grande Beleza” ou “A Mão de Deus”, “Parthenope” parece estagnado em uma zona de conforto autoral que já não surpreende. Falta-lhe o equilíbrio entre introspecção e provocação, entre o nonsense e a emoção crua, que tornaram os filmes anteriores de Sorrentino tão marcantes. Enquanto “A Grande Beleza” usava o artifício visual como linguagem para dissecar a decadência e o vazio existencial, aqui o artifício parece um fim em si mesmo.
“Parthenope: Os Amores de Nápoles” é uma reflexão visual à beleza efêmera, mas que tropeça ao tentar transformar abstrações filosóficas em cinema de personagem. O formalismo refinado não sustenta sozinho uma obra cuja dramaturgia é rasa e dispersa. O resultado é um filme visualmente sedutor, porém emocionalmente distante. A menos que o espectador já esteja profundamente envolvido com o estilo de Paolo Sorrentino, este projeto específico dificilmente servirá como porta de entrada ou ponto de inflexão em sua filmografia.
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