“The Chosen – Última Ceia”representa o momento de maior tensão dramática da série até agora. Dirigida por Dallas Jenkins, a produção entra em sua quinta temporada com uma tarefa clara: dar forma audiovisual ao ponto de inflexão da narrativa cristã, a Semana Santa. E, do ponto de vista técnico, a série entrega um dos arcos mais consistentes em termos de direção, atuação e construção narrativa, mesmo que esbarre em alguns desacertos de ritmo e estrutura.
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A construção da tensão ao longo da temporada é gradual e eficaz. Desde a recepção messiânica de Jesus em Jerusalém, passando pela purificação do templo, até o clímax representado pela Última Ceia e o início da Paixão, cada episódio acrescenta camadas de complexidade emocional e política. A série equilibra bem a expectativa do público com a fidelidade ao texto bíblico e a dramatização interpretativa. O Episódio 3, apontado como destaque, é de fato um marco narrativo: trabalha com ritmo preciso, economia de diálogos e tensão crescente, culminando em revelações que reestruturam as relações entre os personagens.
O arco de Judas Iscariotes, por exemplo, é um dos mais bem conduzidos da série até aqui. Em vez de tratar sua traição como um ato súbito, “The Chosen” investe em nuance: Judas é apresentado como alguém em conflito, iludido por expectativas políticas e espirituais, o que torna sua queda mais trágica e menos caricatural. Essa abordagem realça o impacto emocional sem recorrer a fórmulas didáticas.
Os dois primeiros episódios da temporada priorizam a exposição e, embora compreensível no contexto da preparação para os eventos centrais, o excesso de diálogos explicativos prejudica o dinamismo. Algo semelhante ocorre com o Episódio 7, que sofre com flashbacks e subtramas que não avançam a narrativa principal de maneira convincente, com exceção da comovente cena com o personagem Pequeno James. Já o Episódio 8 se destaca tanto pela origem de Tadeu um raro momento de intimismo bem dosado quanto pela construção simbólica da ceia como despedida e ruptura.
A ambientação da série segue em alto nível. A reconstituição de Jerusalém é detalhada sem ser espetaculosa, apostando mais na imersão do que em grandes efeitos. A direção de arte acerta especialmente na cena da Ceia, cuja composição visual, iluminação baixa, presença simbólica dos elementos do ritual judaico e enquadramentos simétricos, reforça a solenidade do momento sem apelar para grandiloquência.
A escolha por dividir a Última Ceia entre episódios pode gerar certa frustração para quem esperava um episódio único mais centrado, mas essa fragmentação permite explorar os impactos individuais nos discípulos, aprofundando relações e dinâmicas internas.
Jonathan Roumie, como Jesus, mantém a interpretação equilibrada entre serenidade e firmeza. Nesta temporada, sua performance ganha mais densidade à medida que o personagem enfrenta traições e se prepara para o sacrifício. Os coadjuvantes também se destacam, com Pilatos, Cifás e principalmente Judas trazendo camadas de ambiguidade e tensão aos episódios finais. As atuações femininas (especialmente no episódio 4) oferecem momentos de leveza e empatia, ancorando emocionalmente a série em meio ao avanço da tragédia.
“The Chosen – Última Ceia” é uma temporada tecnicamente sólida, com direção segura, atuações competentes e uma condução narrativa que respeita a complexidade do material original sem se tornar excessivamente reverente. Mesmo com oscilações pontuais de ritmo e um episódio destoante em termos de impacto, a temporada alcança seu objetivo: representar com peso dramático e precisão simbólica os eventos que precedem a crucificação.
É uma temporada que se apoia no que foi construído anteriormente, mas que não se acomoda. O tom mais sombrio, a tensão crescente e a atenção ao detalhe visual posicionam “The Chosen” como uma das dramatizações mais competentes da história de Jesus na televisão.
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