A atmosfera tensa e sufocante de “Não Solte!” se constrói a partir da premissa de um mal invisível que assola o mundo exterior, forçando uma mãe e seus filhos a se restringirem a um espaço seguro, aparentemente imune à ameaça. No entanto, essa falsa sensação de proteção começa a se desintegrar conforme os laços familiares começam a ser questionados. Um dos filhos começa a duvidar da real existência do perigo, o que provoca uma fissura nos pilares que sustentam a segurança e a união da família. A história, construída com um thriller psicológico, explora de maneira interessante o confronto entre a crença no que é tangível e a dúvida, colocando em cena um cenário onde a sobrevivência depende da manutenção do vínculo entre os personagens.
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Dirigido por Alexandre Aja, o filme apresenta uma proposta ambígua, onde a tensão se desenrola de forma gradual e nem sempre linear. Ao adotar um ritmo que inicialmente se arrasta, o primeiro ato cria uma atmosfera de crescente desconforto, mas também arrisca perder a atenção do espectador. O grande trunfo da produção reside na forma sutil como a história vai revelando seus elementos centrais, sem sobrecarregar o público com exposições diretas. Aja, que já foi aclamado por sua habilidade em criar tensão em filmes como “High Tension” e “Crawl”, aqui oferece uma abordagem mais contida, buscando explorar a psicologia dos personagens e o ambiente restrito como as maiores fontes de suspense.
No entanto, a proposta de ambiguidade no desenvolvimento da trama nem sempre é bem executada, o que gera uma quebra no ritmo, prejudicando o impacto emocional do filme. A transição da primeira metade para a segunda, que deveria ser um ponto de virada, se mostra arrastada e pouco eficaz, fazendo com que a resolução final pareça mais forçada do que orgânica. É no segundo ato que a narrativa ganha mais dinâmica, mas já quase tarde demais para recuperar completamente o envolvimento do público.
A cinematografia do filme, embora sólida e funcional, não se destaca por sua inovação, o que resulta em uma sensação de familiaridade. As escolhas visuais reforçam o tom claustrofóbico e a sensação de confinamento, mas não apresentam elementos que surpreendam ou ofereçam uma leitura visual única. Já o design de som se torna um dos maiores aliados da produção, ajudando a reforçar a tensão e a criar uma atmosfera imersiva, especialmente nos momentos mais silenciosos, onde o suspense é potencializado por pequenos ruídos ou silêncios inquietantes.
A atuação de Halle Berry, que também produz o filme, deixa a desejar em alguns momentos, não conseguindo sustentar a carga emocional exigida pelo papel. Sua performance, por vezes, parece perder a intensidade necessária para criar um vínculo emocional mais forte com o público. Em contrapartida, os jovens Anthony B. Jenkins e Percy Daggs IV demonstram um talento impressionante, assumindo um protagonismo que, em muitos momentos, rouba a cena de Berry. Suas performances, mais cruas e autênticas, oferecem uma dinâmica interessante que mantém o filme de pé, especialmente quando a tensão emocional parece se esvair.
“Não Solte!” tenta se alinhar com filmes que misturam o terror psicológico e o survival horror pós-apocalíptico, mas não consegue se firmar como uma obra consistente dentro desse gênero. A ambiguidade e o ritmo problemático acabam limitando o impacto da história, que, embora tenha um bom conceito e algumas surpresas no caminho, não consegue entregar um thriller verdadeiramente memorável. Apesar da boa construção da atmosfera e das boas atuações de parte do elenco, o filme falha em explorar todo o seu potencial, resultando em uma obra que, embora interessante, não alcança o nível de excelência que o diretor e o conceito poderiam prometer.
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